Relato do Ironman Fortaleza 70.3 2017

Nas duas últimas vezes que estive no IronMan Fortaleza não foi muito divertido. Na primeira peguei uma virose três dias antes da prova. Na segunda foram 7 dias antes.

Na primeira eu completei em 12:24:25 e na segunda eu abandonei no km 72 da bike. Sendo que na segunda estava muito melhor preparado. Aquela desistência ainda ecoa na minha cabeça. E com ela em minha mente, resolvi me inscrever novamente para competir em Fortaleza.

Infelizmente a prova que era um Full Iroman (3800/180/42) virou um 70.3 (1900/90/21). Infelizmente só pra mim mesmo. A prova tinha 450 inscritos em média e esse ano teve 1.250, mas mesmo assim não deixou de ser dura.

A largada da natação foi dividida em ondas, onde cada faixa etária tinha seu horário e grupo para largar. Com uma diferença de 5 minutos entre cada uma, a minha foi a segunda. Enquanto via os atletas da primeira onda já na água e se distanciando, lembrei que tinha esquecido o protetor solar. Hoje vou fritar! Dá nada, vamos nessa!

Dada a largada para o meu grupo, busquei a lateral dele para não ficar preso no “trânsito”. Dei aquele mergulho no mar, estilo S.O.S Malibu, e meus óculos saíram do lugar, entrando água e prestes a cair. Comecei a nadar de costas para ajeitar os óculos e retomar a labuta. Tudo certo, óculos na cara e sem entrar água.

Fui nadando bem equilibrado e firme em um mar agitado. Já na primeira bóia, cheguei no grupo da frente da minha largada. Dali era “segurar na esteira” de alguém e economizar energia.

Mas o mar agitado e os atletas mais lentos do grupo da frente dificultaram isso. Acabei nadando sozinho mesmo. Foi bom! Atropelei sem querer alguns atletas à minha frente. Tomei umas pesadas e braçadas durante o percurso, mas fiz meu melhor tempo em 1900 metros, 28:57.

Fiz uma transição tranquila para subir na bike. Tinha 90k pela frente e queria saber como meu corpo iria reagir à alteração da minha alimentação pré prova. Nas últimas duas não tive força pra pedalar.

Tudo foi fluindo bem. Até um dado momento em que um atleta me passou e eu reparei no volume grande que era o chip no tornozelo. “Esse chip é mó trambolho!” Aí olhei pro meu tornozelo… cadê meu chip?!? Tinha esquecido de colocar o chip. E agora?!?

Parei de pedalar na hora e comecei a me questionar como poderia ser tão abestado. Quando não fico doente, faço uma asneira dessas. “Já era, onde é o próximo retorno?”, mas pensei comigo mesmo que eu tava bem e iria completar de qualquer jeito. Mesmo não levando medalha ou algo do tipo, iria tirar meu “nome do prego” de Fortaleza.

E desistir não é mais uma opção em minha vida. Voltei a pedalar forte. Um árbitro passou de moto por mim e o chamei. Avisei que estava sem chip. Ele tirou uma foto minha e avisou à organização da prova. Já estava mais aliviado. Tava no jogo de novo. Dali em diante, em todos os pontos de cronometragem eu gritava meu número e avisava que estava sem chip.

Até os primeiros 45km eu voei. Fiz 41,2km/h de média. Vento nas costas é uma beleza! De lá até o fim com vento na testa, a minha média só fez cair. Para minimizar os danos do vento contra, era baixar a cabeça e pedalar. Já sentindo as pernas pesadas, mas inteiro, terminei o pedal com 2:27:15. Tudo lindo! Agora era a hora mais feliz. Vamos correr!

Fiz mais uma vez uma transição tranquila e pé na estrada. Primeiro km fiz pra 4’15” de pace, me ajustando pela percepção de esforço. Dali 200m minha perna direita e esquerda puxaram em câimbra forte. Lascou!! Diminui o passo que chega caminhei. Voltei a correr mais devagar para ver se o corpo relaxava e se ajustava a nova posição de fazer força, mas ele não se ajustou.

A corrida foi ficando penosa. O calor me esmagava. O pé me incomodava. Ondas de calor e arrepio frio. Tava tudo ruim. Essa água de Fortaleza tem alguma coisa que não me cai bem. Mas eu não ia parar! Mas parei, parei pra ajustar o tênis e diminuir a perturbação que estava na minha mente me pedindo pra parar e que repetia pra mim que eu tava mal.

Continuei correndo e ela me perturbando. “Competiu demais! Exigiu muito do corpo! Hora de parar!”. Parar nada!! Quanto mais rápido eu conseguir correr, mais rápido acaba essa agonia. Tava legal não. Normalmente eu vou brincando com a galera e fazendo graça pra fotógrafo. Dessa vez eu só queria terminar. Passo a passo fui indo.

Contando os pontos de hidratação pra esfriar o corpo, os quilômetros e os minutos pra acabar tudo. Tentava identificar pelo número dos atletas os que estavam na minha frente e minha categoria, mas não enxergava nada. A essa altura já sabia que pegar um lugar no pódio seria um milagre. Só se alguém ou alguns abandonassem.

Faltando 2,5km, visualizando já a última rua, me mandam virar para o outro lado. Nãããoooo!!! Ainda tinha mais chão que não tinha colocado na minha cabeça. Vamos nessa, passinho a passinho. Já estava no final. Só restava 1 km. Ouvi o som de um atleta fazendo força atrás de mim. Eu só queria chegar. Fiz sinal pra ele passar.

Mas aí lembrei do senhor (mais velho mesmo, uns 58 anos) que me ultrapassou no final do meu primeiro IronMan e atrapalhou a minha foto da chegada. Não vou deixar isso acontecer. No último km ninguém me passa!!! Acelerei o passo e não olhei pra trás. Só ia reduzir depois do pórtico.

Cheguei no tapete azul. Muita gente na arquibancada. Meu brother William Bonder estava lá no microfone da prova me esperando. Ele estava devendo o meu nome na linha de chegada . “Andrei Achcar, parabéns!!!”

Cheguei!!!! Eu só queria dar uma deitadinha no chão pra relaxar e o povo querendo me carregar pro posto médico. “Calma gente!! Deixa eu curtir um pouquinho aqui no chão”

Concluí a corrida em 1:35’40”. Fechando a prova em 4:37:20 (colocação: 21º geral e 6º na categoria 35/39 anos).

Me pediram o meu chip. Mais uma vez afirmei que não tinha. Um dos organizadores foi até mim e pediu para conferir meu Garmin. Depois da “auditoria”, ele me liberou.

Agora tinha que avisar à minha esposa que eu estava vivo. Sem a marcação do chip ela devia estar “pirando” em casa sem poder conferir minha prova pela internet. Arrumei um celular com uma pessoa do Staff da prova e liguei para ela. “Amor, tô vivo!!”. Ela me responde docemente, “Agora chega desse negócio de Fortaleza, né?!” Eu: “Que nada, ainda falta a outra metade!”

Muito obrigado a todos de Fortaleza que torceram, gritaram meu nome e me incentivaram. Com certeza, vocês me ajudaram a não parar e a dar o melhor de mim. Muito obrigado! Foi fantástico!

Meus sentimentos à família e aos amigos do atleta Genilson Lima, que faleceu durante a prova na etapa da natação. Descanse em paz. E que sua morte possa mostrar pontos a serem corrigidos na organização da prova, para que se evite repetir algo do tipo.

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Vamo que vamo! Rumo à Corrida Perfeita!